O videoclipe não é mais como antigamente?

///O videoclipe não é mais como antigamente?

O videoclipe não é mais como antigamente?


Se no passado o videoclipe foi considerado um eficaz instrumento de marketing e foco de grandes investimentos de agentes da cadeia produtiva da música, vemos que o cenário atual sofreu grandes alterações. Enquanto que a indústria do disco apresenta sucessivos prejuízos com base na queda da venda de seus produtos, assistimos a popularização da tecnologia capaz de registrar e disponibilizar acervo audiovisual. Com isso, observou-se o volume de informação disponível gratuitamente aumentar de forma exponencial. Para muitos artistas e pessoas ligadas ao meio musical, o grande desafio nos dias de hoje é chamar a atenção do público em meio a um mar quase infinito de músicas e vídeos.

E em meio a esse “caos”, qual seria o papel do videoclipe nos dias de hoje? Que alterações foram percebidas com o advento de tecnologias capazes de registrar e disponibilizar com facilidade acervo audiovisual? Para entender esse momento, busquei conversar com dois profissionais ligados ao setor musical e de vídeo: o primeiro é o músico, DJ e jornalista musical Melvin Ribeiro (twitter.com/melvin) e o outro, o videomaker e diretor de arte Grima Grimaldi (www.grimagrimaldi.com/).

Grima defende que nunca foi tão fácil produzir um vídeo: “… meu filho e a namorada são músicos, eles estão sempre gravando seus videoclipes aqui em casa e disponibilizando o material na internet. As novas câmeras digitais de vídeo e fotografia que gravam em alta resolução e som digital têm feito com que essa produção caseira venha melhorando gradativamente a qualidade sem precisar gastar muita grana.”

Além disso, o diretor de arte acredita que tais inovações contribuíram para alterar as configurações do mercado, visto que teriam ajudado, na visão dele, a enfraquecer barreiras restritivas impostas por agentes do setor. Ele comenta: “… eu acredito que a melhor maneira de divulgar um trabalho de vídeo atualmente é utilizar as redes sociais gratuitas. Isso é proveitoso não só para o artista, mas principalmente para o público, pois não terá mais de depender exclusivamente de um programador da TV, que recebe seu jabá, para consumir cultura. Passamos anos sendo obrigados a assistir e a ouvir o que as rádios, as TVs e as gravadoras nos impunham. Alguns agentes da indústria não esperavam que essa concorrência viesse de forma tão forte e com tanta produção de qualidade”, destaca Grima.

Já o músico Melvin Ribeiro acredita que as emissoras de TV perderam seu interesse pelos videoclipes por conta do grande volume de material produzido nos dias de hoje e defende que se no passado o investimento na produção dessa ferramenta era essencial para o desenvolvimento de uma carreira profissional, e estimular as vendas de discos, hoje em dia ele crê que o foco mudou. “Antigamente, as bandas faziam um videoclipe com o intuito de passar sua imagem estética para o público e alavancar a venda de discos. Hoje em dia, vários artistas acham que vale mais a pena usar técnicas do marketing viral com o intuito de atrair a atenção de indivíduos que normalmente não se interessariam pela banda por simples questão de empatia musical. Pra mim, o caso de maior sucesso que retrata isso é o vídeo da música Pork and beans, da banda norte-americana Weezer.”

Uma das razões atribuídas ao sucesso de audiência desse videoclipe é o fato da banda aparecer interagindo com diversos vídeos que ficaram famosos na internet na época de seu lançamento, em 2007. Para Melvin, essa iniciativa fez a banda ficar conhecida entre pessoas que vão além do público tradicional do Weezer.

http://www.youtube.com/watch?v=cfOa1a8hYP8

Outro exemplo é o da música Lotus Flower da banda Radiohead, em que o vocalista Tom York aparece dançando uma coreografia que causou espanto de muita gente: “…eles (Radiohead) podiam ter feito um videoclipe lindo, maravilhoso, bem fotografado e ninguém ia querer saber a respeito, mas o Tom York dançando vira uma notícia que sai da esfera dos fãs e passa a ser comentada por mais gente. E é a partir daí que surge a chance de outras pessoas passarem a conhecer a banda.”

Assim, percebe-se que o barateamento ao acesso a ferramentas de produção e divulgação de vídeo e música possibilitou a produção de acervo audiovisual a custos menores. Além disso, vemos que mesmo com todas as mudanças de cenário apontadas, o videoclipe ainda é uma ótima forma de divulgar um trabalho musical. O desafio nos dias de hoje é transformar uma boa ideia em um bom produto e disseminá-lo no mundo virtual para gerar frutos no mundo real.

Colunista Leo MorelLeo Morel é baterista, percussionista da cena musical carioca e autor do livro Música e tecnologia: um novo tempo, apesar dos perigos. Para conhecer o livro e demais informações acesse http://musicaetecnologia.net/, ou e-mail para leomorel@musicaetecnologia.net.

2011-04-27T19:52:07+00:00 Abril 27th, 2011|Categories: colunas, Mídias Musicais|

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One Comment

  1. Andy Lima Maio 22, 2011 at 8:32 pm - Reply

    Falando no assunto, hoje eu vi um clipe muito legal! http://www.youtube.com/watch?v=QW0i1U4u0KE.

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