Modern Sound: e lá se vai mais uma loja de discos

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Modern Sound: e lá se vai mais uma loja de discos

 Fim da Modern Sound

Em dezembro, o meio musical e os amantes da música ficaram surpresos com o anúncio do fechamento de uma das mais tradicionais e respeitadas lojas de discos da cidade do Rio de Janeiro, a Modern Sound. Suas atividades tiveram início há 44 anos e acabou se tornando um dos mais conceituados estabelecimentos do ramo por conta de um vasto acervo proveniente de artistas independentes, gravadoras multinacionais e independentes que tinham a Modern Sound como local garantido para vender seus produtos. Além disso, há cerca de dez anos, a loja havia inaugurado um espaço para shows que sempre contou com boa presença de público.

Histórias similares vêm acontecendo com a grande maioria desses estabelecimentos desde o final do século passado, quando surgiram novas formas de se produzir, distribuir e consumir música. Vale lembrar a cadeia internacional de lojas de discos Tower Records, que fechou suas portas no ano de 2006.

Com base nesses fatos históricos, muitas conclusões podem ser abordadas e citarei a seguir um relato que pode contribuir na compreensão desse atual momento.

Em outubro de 2008, estive presente no Seminário Internacional de Direito Autoral aos Novos Rumos, promovido pelas associações que integram o sistema autoral brasileiro no campo da execução musical e demais segmentos de criação intelectual do país. Um dos palestrantes foi Eric Baptiste, diretor geral de uma das maiores associações de arrecadação de direito autoral do mundo, a Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (CISAC).

Fenômenos como o que vem ocorrendo com a Modern Sound podem ser explicados por uma questão definida por ele como delivery of music (entrega da música). Ele defende que o acesso a esse bem mudou, deixando o formato tradicional obsoleto e ineficaz. Além disso, acredita ser necessário avaliar o valor da música para o público em geral atual: “Muitas marcas investiram em marketing e inovações visando oferecer ao público produtos que pudessem realizar o sonho das pessoas. (…) Atualmente, aparelhos como telefones celulares e máquinas digitais de fotografia caíram nas graças do público”. Os discos, na visão dele, perderam seu valor se comparados a esses produtos.

Porém, Baptiste citou ainda que, em pesquisa realizada na sua terra natal, a França, descobriu-se que 97% dos franceses ouvem música todos os dias. No Brasil, por se tratar de um país bastante musical, creio que não deva ser diferente.

Através disso, podemos perceber que a relação da sociedade com a música passa por significativas mudanças desde o final do século passado com o advento da internet e o acesso facilitado a novos meios de produção e divulgação musical. O desafio agora é fomentar o equilíbrio entre os interesses coorporativos e os da sociedade para que se possa desenvolver um mercado legalizado e adaptado para as necessidades atuais de demanda.

Colunista Leo MorelLeo Morel é baterista, percussionista da cena musical carioca e autor do livro Música e tecnologia: um novo tempo, apesar dos perigos. Para conhecer o livro e demais informações acesse http://musicaetecnologia.net/, ou e-mail para leomorel@musicaetecnologia.net.

2010-12-20T19:10:59+00:00 dezembro 20th, 2010|Categories: Mídias Musicais|Tags: , , , |

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4 Comments

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  2. rafael velloso dezembro 21, 2010 at 10:29 am - Reply

    Salve Leo,

    Maravilha, parabéns pelo belo artigo e pelo novo espaço.

    Queria acrescentar que o CD, mesmo tendo deixado de ser um objeto de consumo, tal como vinil no passado o que de fato contribui para as grandes perdas deste mercado, eu recomendaria dar uma passada por lá antes de fechar.. eu fui e além de encontrar bons preços, 30% em valores acima de 100 R$, consegui peças fundamentais, raras para qualquer apaixonado por música, alguns títulos que estão fora de catalogo por vários motivos.

    Desta forma penso que mesmo com a grandeza da internet, esta, não substitui em certos aspectos uma loja como a Modern Sound que tem um acervo muito significativo. Neste caso o acervo, ou seja o conteúdo, se faz muito mais importante do que a mudança tecnológica.

    Além de ser um palco disputado, responsável por shows inesquecíveis e fonte de trabalho para muitos músicos geniais.

    Um abraço e sorte pra nós,

    Rafa

  3. Leo Morel dezembro 22, 2010 at 10:59 am - Reply

    Concordo plenamente contigo Veloso, darei uma passada lá com certeza.

    Abração!

  4. Zhungarian Abril 17, 2011 at 9:01 am - Reply

    A Modern Sound era uma grande loja. Porém, parou no tempo. Eu mesmo já havia solicitado algumas vezes informação pelo site deles, e nunca recebi resposta. Ou seja, uma empresa que não se moderniza (como diz o próprio nome da loja) tende a cair na obsolescência. Foi o que aconteceu. A Modern Sound vendia CD’s a preços muito acima do mercado. Sim, eram importados. Mas no próprio site da Amazon pode-se não apenas comprar os mesmos discos por um preço menor como ouvir às músicas dos discos antes de comprá-los. Assisti à choradeira quando do fechamento da loja, mas fazer o quê? Os principais culpados foram os próprios donos, que confiaram demais nos elogios rasgados dos frequentadores da loja que, em sua maioria, só apareciam por lá para sentir o cheiro dos discos.

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