Houve um momento em que computadores e instrumentos virtuais surgiram como opções para a produção musical e performances no palco. Por um período razoável, simulações de instrumentos musicais e efeitos, rodando em um desktop ou notebook, foram vistas com certo (e até total) ceticismo por uma série de profissionais da música. O tempo passou e as ferramentas baseadas no computador evoluíram e passaram a fazer parte da rotina dos músicos e produtores. Uma nova revolução parece estar se aproximando e esta é ainda mais portátil e inusitada! E se seu Smartphone ou Tablet fosse capaz de atuar como uma poderosa e versátil ferramenta musical? Para os usuários de iPhones e iPads, isto já é uma realidade.
Talvez não seja novidade para você, mas é bom recordar alguns fatos. Em 2007, a Apple lançou o iPhone, um dispositivo com tela multitoque e poderes que iam muito além do que se esperava de um telefone. Pouco depois, a empresa liberou o desenvolvimento de aplicativos para programadores de todo o mundo. Não demorou para que os primeiros títulos musicais começassem a surgir. Tocar piano e guitarra na tela do aparelho foi uma das primeiras novidades. Porém, tudo ainda era experimental e tinha cara de brinquedo, ou jogo naquela época.
iPod Touch rodando um app controlador MIDI sem fio
Desenvolvedores de software enxergaram o potencial musical do iPhone para aplicações um pouco mais sérias e lançaram interessantes controladores para programas de produção musical, gravadores de áudio multipista e os primeiros sintetizadores. Mas o grande impulso da música em dispositivos móveis ocorreu mesmo em 2010, com o lançamento do iPad.
Se tocar ou controlar instrumentos na tela pequena do iPhone era algo problemático, o tablet da Apple poderia solucionar a questão e oferecer muitas outras possibilidades de interface para aplicativos musicais. Os primeiros que se beneficiaram da versatilidade do iPad para a música foram os DJs. O aplicativo TouchOSC permitiu criar qualquer tipo de superfície de controle na tela do tablet para comandar todos os parâmetros desejados de um DAW (Digital Audio Workstation), como o Ableton Live, ou Traktor. A ideia funcionava com o iPad conectado a um computador, por meio de uma rede sem fio, e o envio de mensagens OSC (open sound protocol), depois convertidas em MIDI para controlar os softwares.
Korg desenvolve versão para iOS do sintetizador analógico MS20
Aplicativos com ideias variadas não paravam de aparecer. Porém, um fato novo mudou o status da música nos dispositivos iOS (sistema operacional de iPads e iPhones): a KORG, que já vinha em uma tendência de miniaturização de seus instrumentos e lançamento de equipamentos musicais bastante portáteis, apresentou os aplicativos iELECTRIBE (reprodução fiel da Drum Machine ELECTRIBE) e iMS-20 (a versão para iOS do clássico sintetizador analógico MS20, com extras) para o iPad. Uma das maiores empresas de equipamentos musicais do mundo começava a lançar instrumentos para o tablet.
iRig e app Amplitube para iPhone
A IK Multimedia e a Line 6 também ajudaram a chamar a atenção para o potencial musical desses dispositivos com os lançamentos do iRig (adaptador que permite ligar a Guitarra ao iPhone/iPad) e da interface MIDI Mobilizer, a primeira a oferecer condições de enviar e receber mensagens MIDI com apps para o iOS e equipamentos externos.
Outro entusiasta de peso é Jordan Rudess, tecladista da banda Dream Theater e que atualmente tem uma empresa de desenvolvimento de apps musicais para iPad e iPhone. Rudess emplacou um grande sucesso de vendas, com o lançamento de seu app MorphWiz. Além disso, participou ativamente na divulgação e aprimoramento de diversos outros títulos.
Um breve exemplos de apps musicais com Jordan Rudess:
Outro divisor de águas? A própria Apple decidiu lançar uma nova versão do iOS com compatibilidade MIDI nativa. iPhones, iPods Touch e iPads passaram a ser capazes de se comunicar com instrumentos virtuais e DAWs, rodando em Macs e Windows, quase sem nenhuma necessidade de instalação de softwares adicionais, ou configurações, por meio de conexão sem fio. O iPad ganhou também uma possibilidade ainda mais interessante: usando o adaptador Camera Connection Kit, desenvolvido pela Apple para transferir fotos de cameras digitais para o iPad, usuários passaram a poder conectar interfaces de áudio e MIDI para interagir com os aplicativos do tablet, através da popular conexão USB.
No final de 2010, a banda Gorillaz anunciou o lançamento do álbum The Fall, produzido ao longo de uma turnê americana, utilizando o iPad como principal ferramenta de gravação e geração de timbres. Ao contrário do que muita gente noticiou, o trabalho não foi inteiramente gravado e produzido com o tablet. Sintetizadores convencionais e, até mesmo, instrumentos acústicos também fizeram parte do projeto.
GarageBand no iPad2
Agora em 2011, a Apple lançou o iPad 2, uma geração mais fina, mais leve e mais potente. No dia do lançamento, anunciou a versão para o tablet de um dos softwares musicais mais populares do mundo, o GarageBand. Veja um bom exemplo do GB para iPad em ação.
A NAMM de janeiro (confira aqui a cobertura do evento feita pelo Overdubbing) já anunciava que 2011 seria marcado pelo lançamento de acessórios musicais para o iPad. Empresas como a Alesis, Akai, Apogee, Yamaha e Digitech já estão com novidades bem profissionais chegando no mercado. Uma das mais aguardadas é o Alesis iO Dock, uma base para o iPad capaz de transformá-lo em uma poderosa ferramenta de produção musical, com diferentes entradas e saídas de áudio e MIDI. Do lado dos aplicativos, outra grande novidade: a Image Line acaba de liberar a versão móvel do FL Studio para iPad e iPhone.
Donos de iPads e iPhones já contam com apps para produção musical, instrumentos virtuais e controladores poderosos. Já recebi relatos de pessoas que compraram um ou mais iPads exclusivamente para a música. Já não é tão difícil encontrar artistas que estão usando o tablet em estúdios e no palco. Se você não gosta da Apple, ou simplesmente gostaria de ter outras opções, saiba que smartphones e tablets com o Android também poderão se tornar boas alternativas musicais, mas isto já é assunto para outro post.
Assim serão as minhas contribuições para o Overdubbing. Semanalmente escreverei posts exclusivos, analisando as novidades e possibilidades da música em dispositivos móveis para os músicos profissionais. Já trabalha com música no iOS? Será que seu notebook será substituído por um tablet no futuro? Acha que essas novidades não passam de modismo? Quer saber mais sobre o assunto? Mande seu comentário e vamos conversando por aqui!
Até a próxima semana, quando falarei sobre alguns dos melhores aplicativos musicais para o iOS.
Marcus Padrini é jornalista, músico e editor do blog MusicApps.com.br , especializado em Música Móvel.
E pensar que há 15 anos um celular era algo totlmente inacessível! Ver esses dispositivos fazendo música é algo até surreal! Estou no aguardo das novas atualizações! Abs
[…] passada, falei um pouco sobre como surgiu e tem se desenvolvendo a música em dispositivos móveis (leia aqui), mais especificamente em iPads e iPhones. Se hoje é possível tocar, gravar e controlar outros […]