Musicalidade além das fronteiras do cotidiano

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Musicalidade além das fronteiras do cotidiano

Quem nunca sentiu vontade de fazer uma mudança radical?
Pode ser desde a escolha de outra profissão, adquirir um hábito de vida mais saudável, buscar um novo relacionamento ou, quem sabe, aprender um instrumento diferente, que transforme seu modo de ver a música. Na teoria é fácil, mas, na prática, mudanças exigem tomadas de decisões; atitudes que implicam, na maioria das vezes, em abrir mão de algo “seguro” e caminhar em direção ao novo.

Assim foi para o músico e jornalista Michael Vlcek, que decidiu no ano passado mudar de ares, dando um tempo no seu emprego, em um conhecido jornal carioca, para embarcar rumo a Londres com um único objetivo: estudar produção musical. Antes que pergunte o porquê de tão longe, a resposta está na influência britânica de seus ídolos da adolescência. A foto no Abbey Road Studios (acima), onde os Beatles gravaram a maioria de seus álbuns, e Michael a oportunidade de masteriar uma música de sua autoria, comprova parte do sonho realizado. O resto, só lendo a entrevista abaixo para saber.

Por que estudar gravação em Londres?
Michael (à direita): Eu poderia ter feito isto no Brasil, mas tinha a necessidade grande de mudar de ares. Vejo como uma decisão acertada, porque, apesar das dificuldades e barreiras naturais, Londres é uma cidade muito musical. Além do mais, a Inglaterra sempre foi o berço das minhas maiores referências na música, e juntando A com B, concluí que aqui seria ideal.

Como você analisa o mercado de gravação na inglaterra?
Michael: As possibilidades são muitas, mas eu ainda não estou ambientado o suficiente para dizer o quão difícil é para um estrangeiro furar o bloqueio. O que é fato é que existem muitos espaços para os artistas se apresentarem, e muitas empresas procurando novos parceiros para trabalhar. A engrenagem gira sem parar. Uma coisa que se deve ter em mente, porém, é que, assim como no Brasil, as pessoas aqui são muito safas. O que mais vejo é o músico ter seu próprio homestudio e se virar em casa numa boa. Ou seja, o mercado está uma fase de mudança e os espaços para os produtores musicais nessa nova ordem ainda não estão claros. Sem um bom network, a vida aqui pode ser bem complicada. 

Como é estudar no TRW Sound Engineering and Music Technology School?
Michael: O curso que escolhi é o de produção musical e live recording. Assumi como postura que era um "leigo" e por isso comecei por um módulo para iniciantes. Lá, foram apresentados conceitos básicos de acústica, gravação, hardware (o funcionamento de compressores, equalizadores, modulações etc). Rolou um pouco de teoria também. O segundo módulo foi o de mixagem. A cada sessão, pegávamos uma canção pré-gravada crua. Tínhamos a missão de mixá-la até o final do dia. O professor dava dicas e ia nos guiando, apontando possíveis problemas e como melhorar.

Aprendi sobre o funcionamento das mesas analógicas, rewiring… enfim, como funciona um grande estúdio. Ao fim da última sessão, minhas mixagens já apresentavam uma melhoria visível, e muita coisa que antes para mim era "no susto" passou a ter uma lógica de funcionamento. O último módulo, que curso neste momento, abrange gravação faixa a faixa e overall. São abordados também técnicas de microfonação em estúdio, ponderações sobre arranjo, conceitos básicos sobre microfonação no palco e até o uso de psicologia com músicos. 

Tem planos para voltar ao Brasil?
Michael: Sempre terei. No Brasil tenho meus grandes amigos, meu maior network, e é onde eu poderia desenvolver tudo que estou aprendendo aqui de uma forma, talvez, menos tortuosa. Espero capitalizar ao máximo a experiência que estou adquirindo por aqui. 

E como é a dinâmica das aulas? 
Michael: A filosofia do TRW é "por a mão na massa". A metodologia empregada aprender enquanto se faz. Já tive que fazer rewiring de mesa de 32 canais em que todos os cabos de input, output, send/return foram tirados e embaralhados. Imagina o tamanho da encrenca para mim, que lidava no meu homestudio com uma mesa muito menor. O lado bom é que depois disso você abre um Reason da vida e o que parecia um quebra-cabeças vira moleza. Resumindo, a gente mexe muito com hardware, mais do que em software, porque, segundo os instrutores, se você aprende a lógica de como as coisas funcionam na vida real, você poderá se virar em qualquer ambiente ou situação. É, portanto, um curso que atenta muito para o prático, justamente o que me seduziu. Ficar sentado em uma cadeira ouvindo teoria não é exatamente a melhor maneira de aprender a se virar em um estúdio.

Em média, quanto custa estudar gravação em Londres? 
Michael: A pergunta é complexa, pois depende muito da escola. Há cursos de 5 mil libras, há cursos de mil. É preciso também lembrar que o custo de vida aqui, para quem ganha em reais, é muito elevado, e principalmente a moradia é muito cara. Então somando tudo, é preciso vir bem preparado. Por exemplo, ambiciono ainda fazer um curso de songwriting bem legal, mas que custa quase 1.500 libras. Resumindo, não é barato não. A maioria destes cursos pode ser feita também à noite ou aos fins de semana, exatamente para o público que trabalha de dia.

Qual lição tem tirado desta experiência musical?
Micheal: A de que no mundo do áudio experiência prática é vital, mas sem ignorar, claro, o conhecimento técnico. Quando você consegue aliar os dois, aí sim começa a dispor de todas as ferramentas para se destacar em um mercado tão acirrado. E nunca desanimem. É difícil, competitivo, mas fazer o que se gosta é, no fim das contas, qualidade de vida.

Para entrar em contato com Michael, seu e-mail é michaelpv@gmail.com.

E você, onde gostaria de estudar música ou áudio?
Participe comentando abaixo.

 

2009-03-25T22:20:49+00:00 Março 25th, 2009|Categories: entrevistas|

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One Comment

  1. Karina outubro 21, 2010 at 10:01 pm - Reply

    Reading this made me think of a quote. was something like: “All life is an experiment. The more experiments you make the better.” Amerindo Waldo Emmerson

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