E quanto vale o show?

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E quanto vale o show?

Quanto vale o show?

A pergunta do famoso programa de auditório é uma das mais difíceis de ser respondida no mundo profissional. Para os profissionais da música, penso que a maior dificuldade está no fato de que há sempre um grande prazer envolvido no trabalho e, muitas vezes, uma relação afetiva também. Não se deixe confundir com isso, e tente não misturar as coisas: embora todos tenham contas a pagar, não se trabalha só por dinheiro, e nem devemos aceitar condições insanas de trabalho por respeito a uma amizade.

Você pode aceitar fazer um trabalho porque ele lhe dará visibilidade no mercado, por puro prazer em trabalhar com a pessoa que lhe chamou, ou pelo dinheiro que lhe está sendo oferecido. Qualquer combinação desses três fatores vale, mas se o trabalho não lhe oferecer nenhuma dessas condições, pense um pouco melhor antes de aceitar. Não diga “sim” só porque está sem nada no momento, afinal, logo a maré pode virar e você estará com um compromisso roubando um tempo precioso de sua agenda.

Esse, o grande senhor de todos os trabalhadores freelancers: o tempo. O preço de um trabalho está totalmente associado ao quanto tempo você vai gastar para fazê-lo, e não somente ao valor que combinou. O leitor mais experiente poderá estar pensando: “mas e as tabelas da Ordem e do Sindicato dos Músicos”?

Com a nova ordem do mundo musical, e praticamente o fim das gravadoras como estabelecidas até cinco anos atrás, essas sempre citadas (e pouquíssimo seguidas) tabelas assumiram uma função indicativa de valores para pagamentos. “Metade da tabela”, infelizmente, ficou mais comum para pagamento de músicos do que o não raro “duas tabelas” dos anos 80 e 90.

O produtor musical, entretanto, nunca teve seu pagamento tabelado, nem porcentagens básicas. Num mundo em que se discute se o técnico de gravação também teria direitos conexos, o produtor, em muitos casos, é autor também, só que na realidade é mais comum se combinar um preço fixo para o trabalho desse profissional. Muitas vezes, esse valor está embutido dentro de uma verba maior destinada à produção de um trabalho como um todo.

Aí começa a sua relação com o uso do tempo e sua organização. Seu pagamento vai valer muito mais se você não se deixar levar pelas tentações da procrastinação tecnológica (“olha que som incrível desse plug-in para voz que eu ‘downloadeiei’ ontem de madrugada”), ou pela indecisão digital e artística (44 takes de solo de guitarra para montar um composite de oito compassos?)

Produção musical e criação artística estão longe de serem ciências exatas, ou horários de trem bala japonês. É certo de que na música não se trabalha por dinheiro, e é o que nos diferencia de muitas outras profissões, mas isso não pode ser impedimento para organizar o seu trabalho de uma maneira racional.

Como providência essencial para evitar mal entendidos, combine antes o preço pelo que vai fazer, mesmo que ele seja uma simbólica ajuda de custo, ou uma mínima percentagem que o trabalho poderá (ou não) gerar no futuro. Pense bem, leitor: não aceitar, deixa as portas abertas para um próximo chamado. Por outro lado, sair antes de terminar pode deixar marcas e espalhar fama de “difícil”, muitas vezes injustamente.

Fernando Moura é pianista, compositor, arranjador e produtor de música e trilhas sonoras com mais de 30 anos de experiência no mercado. Saiba mais em www.myspace.com/fernandomoura.

2010-11-30T21:04:10+00:00 novembro 30th, 2010|Categories: colunas, Sonhos de um Produtor|

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  1. […] This post was mentioned on Twitter by Rafaela Cappai and Estrombo, Overdubbing. Overdubbing said: Produção musical: vale a pena pegar qualquer trabalho para se manter no mercado? Artigo analisa caso a caso…. http://fb.me/zdOWEK4h […]

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