Quando o produtor deve decidir sem culpa?

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Quando o produtor deve decidir sem culpa?

Quanbdo o produtor musica deve decidir sem culpa?

Recentemente, me surpreendi na AES de San Francisco ao ouvir Bob Clearmountain, um dos maiores engenheiros de som de todos os tempos, dizer qual a principal função do engenheiro de masterização. Para ele, longe de compatibilizar o som das diferentes faixas de um CD, ou aumentar o som para tornar o trabalho competitivo nas rádios e pistas de dança, o importante era a decisão. Se um engenheiro de masterização, com anos de experiência, disser que é melhor não fazer nada com o material que recebeu, o melhor é acreditar e pagar a conta.

Qualquer um que tenha frequentado estúdios de gravação já ouviu a pérola: “na mixagem a gente conserta”, uma das três maiores mentiras da humanidade. As outras duas são: “é uma só, depois eu paro” e “é só a cabecinha”. Nos últimos anos, tem sido upgradeada para “na masterização resolve”.

Evidentemente, leitor, nada disso acontece: o que foi mal tocado, só tocando de novo; o que está mal mixado, só zerando todos os canais e começando outra vez e, segundo John Williams, não há trilha sonora genial capaz de salvar um filme ruim. “Então só devo aceitar um trabalho que ache genial?” Pensará o leitor mais impaciente que me lê nesse início de verão carioca, que se anuncia como um dos mais quentes da história da humanidade.

A pergunta que cabe é: como evitar que a auto-indulgência, típica desses tempos de edição digital, aliada a uma postura falsamente “relax”, conspire contra a qualidade do trabalho que você está produzindo? Muito simples, leitor: é difícil decidir porque quem está nessa posição, por mais seguro e experiente que seja, não pode ter certeza de que sua decisão é sempre a mais acertada. Todos os produtores acabam aprendendo de alguma maneira que não é possível levar um trabalho do início ao fim agradando a todos o tempo todo. Isso inclui o artista, o produtor, seus amigos e namoradas, a gravadora, o técnico de gravação e quem mais participar do dia a dia do processo.

Nem sempre cabe ao produtor a palavra de decisão, mas esteja sempre preparado para apresentar opções para o trabalho chegar ao fim no prazo e no orçamento previamente combinados, sem brigar. Pela lógica do capitalismo, quem assina o cheque é que decide, mas, no mundo real, muitas vezes o papel de antipático não pode ficar com o “patrão” e o primeiro candidato a “homem mau” será o produtor, não duvide disso!

Há algumas estratégias a explorar e alguns comportamentos a evitar. Ser diplomata ajuda muito. Escolha as palavras sem faltar com a verdade. Existe uma grande diferença entre dizer para um cantor depois do décimo take: “está muito fora, assim não tenho como corrigir no computador”, ou “capricha nos graves da parte tal, que depois eu edito e a gente chega lá”.

O humor sempre pode ajudar. Em uma situação na qual o guitarrista (sempre ele, desculpem) quer o seu solo de oito compassos mais alto que tudo nesse mundo, você sempre poderá dizer: “para esse volume que você quer, só com pagamento por fora e eu estou aceitando cartões de crédito”.

Uma estratégia muito boa é deixar preparadas duas, ou mais opções, para decidir no dia seguinte, ou até na hora seguinte, em um momento posterior em que o envolvimento emocional já tenha mudado de intensidade. Você vai se surpreender ouvindo a mesma música no dia posterior depois de uma noite bem dormida. A impressão será completamente diferente e vai lhe possibilitar uma decisão muito mais firme, coerente e que, mesmo não agradando a todos, será muito mais fácil de ser defendida.

Em tempos digitais de mixagens no computador (in the box), com total recall, isso é muito fácil e vai lhe render ótimos resultados, porque, afinal, você exercerá o papel de produtor sem parecer ditador, o que é uma diferença fundamental.

Fernando Moura é pianista, compositor, arranjador e produtor de música e trilhas sonoras com mais de 30 anos de experiência no mercado. Saiba mais em www.myspace.com/fernandomoura.

2010-12-14T21:17:59+00:00 dezembro 14th, 2010|Categories: colunas, Sonhos de um Produtor|Tags: , , |

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2 Comments

  1. […] This post was mentioned on Twitter by Rafael Cavalcanti, Overdubbing. Overdubbing said: Quando o produtor musical deve decidir sem culpa? Novo artigo de Fernando Moura no site Overdubbing…. http://fb.me/I4IcHHuA […]

  2. Sergio Filho dezembro 15, 2010 at 8:10 am - Reply

    “Uma estratégia muito boa é deixar preparadas duas, ou mais opções, para decidir no dia seguinte, ou até na hora seguinte, em um momento posterior em que o envolvimento emocional já tenha mudado de intensidade.”

    Fernando Moura mata a pau os assuntos! Essa frase resume, com certeza, o que a experiência faz você aprender na base da porrada. É de vital importância, na nossa profissão, escutar o que o outro tem a dizer. E nessa coluna, Fernando diz muito.

    Obrigado por nos dar essa contribuição e continue com ela, pois está sendo muito importante pra mim e pra muitos leitores também!

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