Produtor musical freelancer: ser, ou não ser?

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Produtor musical freelancer: ser, ou não ser?

Ser produtor freelancer é uma escolha difícil e, com certeza, não é para todos. A impressão de liberdade em fazer seus próprios horários, não ter “chefe” e “não levar desaforo para casa” têm um preço alto que é a instabilidade do fluxo de trabalho. O telefone não toca sempre que a gente precisa, e sim quando o destino decide. Por outro lado, as contas têm que ser pagas pontualmente, pois o mandamento número um do “frila” é não fazer dívidas, não entrar no cheque especial e só gastar o que tem, sob pena de se meter num buraco sem fundo que nem uma descoberta premiada de pré sal poderá reverter.

Entre muitos fatores, o alto custo dos encargos sociais para os empregadores contribui para a escassez de oportunidades de trabalho estável em todos os ramos de atividade profissional, e na música isso sempre foi muito claro. George Martin era produtor contratado da EMI e foi designado para cuidar daquele conjunto dos rapazes de Liverpool, porque outros na mesma condição se recusaram a fazê-lo e a gravadora precisava de alguém para a tarefa. Ganhou fama e inscreveu seu nome na história da música pop para sempre, mas não ganhou um único centavo de royalty, por ser “funcionário da casa”.

As vantagens em ser um produtor free lancer de sucesso o leitor já conhece e pode conferir em qualquer revista de celebridades. Parece muito melhor? Tente fazer uma escolha baseada em sua personalidade, e não na perspectiva de aparecer nas páginas da mídia acompanhado de alguma popozuda da hora.

Você gosta de riscos? Consegue aceitar as oscilações do mercado sem desespero? Tem problemas em aceitar lideranças ilegítimas, movidas por valores extra competência no trabalho? Mais: está disposto a defender seus pontos de vista profissionais, ainda que eles contrariem interesses e comodidades de pessoas influentes no mercado?

O Produtor George Martin com o pianista Fernando Moura no Projeto Aquarius, na década de 90Ao optar pela vida de free lancer, não ceda à tentação em aceitar qualquer tipo de trabalho e achar que pode produzir tudo. Ninguém sabe tudo, leitor. Nem o Quincy Jones, que tem uma equipe de arranjadores, músicos e engenheiros que varia a escalação a cada trabalho. Nem o referido George Martin, com quem toquei no Projeto Aquarius aqui no Rio na década de 90 (foto à esquerda), e cujos arranjos de músicas dos Beatles posteriores às gravações originais pareciam mais trilha sonora de cadeira de dentista do que referências da música pop mundial, como Hey Jude, Golden Slumbers, ou Eleanor Rigby.

O valor mais importante de um produtor freelancer que quer ficar no mercado é sua reputação e não a notoriedade passageira.

Isso é construído passo a passo, mas pode ser destruído de uma tacada só com um trabalho mal escolhido por ser completamente fora de sua área de conhecimento.

Se a sua é construir credibilidade para uma atuação com continuidade no mercado de trabalho, pense bem antes de aceitar produzir o próximo CD de pagode do pessoal que lhe enviou uma solicitação de amizade pelo Facebook.

Fernando Moura é pianista, compositor, arranjador e produtor de música e trilhas sonoras com mais de 30 anos de experiência no mercado. Saiba mais em www.myspace.com/fernandomoura.

2010-11-22T19:21:20+00:00 novembro 22nd, 2010|Categories: colunas, Sonhos de um Produtor|

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4 Comments

  1. […] This post was mentioned on Twitter by Rafael Cavalcanti, Overdubbing. Overdubbing said: Produtor musical freelancer: ser, ou não ser, eis a questão…. http://fb.me/MPj0FmJN […]

  2. Newton novembro 23, 2010 at 8:09 pm - Reply

    Como sempre, o Fernando ataca na ferida, sem anestesia. Após alguns anos como freelancer a vida armou uma arapuca e me fez ceder às tentações de um qualquer garantido no final do mês. Quer saber? Segurança é uma ilusão criada pelo homem e, além do mais, eu era mais feliz enquanto dono do meu próprio nariz. Saudações!

  3. Heraldo Paarmann novembro 23, 2010 at 8:39 pm - Reply

    Fernando, a única coisa que posso fazer é aplaudi-lo!!! CLAP CLAP!!!

    É muito bom ler um texto onde nos identificamos e não nos sentimos sós. Hoje em dia a produção musical está banalizada como tantas outras áreas que foram inflacionadas pelo “facilitalismo” tecnológico e pelos tutoriais “youtubisticos”, mas eu amo a tecnolgia de ponta – afinal somos produtores musicais e vivenciar as novas tecnologias faz parte de sabor.

    Enfim, estamos atravessando um mar de mudanças de comportamento e principalmente sobre o novo significado sobre credibilidade e Knowhow!!!

    Abraços!!!

  4. Sergio novembro 26, 2010 at 5:04 am - Reply

    Tudo que o Fernando falou aqui é vero.
    Entretanto, meu ponto de vista é idêntico ao do amigo acima: estabilidade é uma ilusão criada pelo homem e adotada por aqueles que têm medo de estar abertos à tudo que a vida pode lhes dar.
    Apesar da minha pouca idade, há anos que me sustento de todas as atividades musicais ditas como “inseguras”, “instáveis” e etc.
    O importante é estar aberto. Tudo que a vida nos dá é uma dádiva, visto que não podemos mudar os fatos.

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