Botei meu sapatinho na janela do estúdio

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Botei meu sapatinho na janela do estúdio

Artigo de Fernando Moura no site Overdubbing

Acontece com todos, leitor, não precisa se envergonhar. Nessa época do ano, pressionados pela propaganda consumista desenfreada, pelas incontáveis comemorações de amigo oculto e e-mails de boas festas, acabamos por ficar desejosos em ganhar alguns presentes que realmente nos ajudem a ter uma vida melhor. Além, claro, das incontáveis caixas de sabonete e cremes de barba que agradecemos com um sorriso nos lábios diante da mesa da santa ceia familiar.

Dentro desse quadro, o primeiro presente que adoraria ganhar seria o “Woodfacer”. Sob a forma de loção, bastaria uma passada no pós-banho para ir visitar o cliente, ou apresentar aquele trabalho feito totalmente em cima da hora porque alguém que estava escalado antes não conseguiu fazer, ou porque a produtora só lembrou da trilha sonora ao perceber que o som direto ficou cheio de ruídos, ou o desempenho dos atores está muito abaixo do esperado pelo cliente.

Um fato marcante no mundo dos freelancers é que depois de aceitar fazer um trabalho, mesmo sendo uma roubada total (o leitor sabe o que é isso, tenho certeza!), você será cobrado em cada pequeno detalhe como se estivesse no projeto há meses e ganhando cachê de dedicação exclusiva.

Já que mencionar as condições nas quais pegou o trabalho desagradará 10 entre nove clientes que fazem esse tipo de convite, o “Woodfacer” garantiria a você a tranquilidade necessária após a apresentação para ouvir aquela infindável lista de “…e se?”, com o mesmo sorriso de Natal que você oferece ao seu sogro quando, mesmo sabendo que você não bebe, ele lhe presenteia com uma garrafa de uma legítima caninha do interior de Minas Gerais e quer fazer um brinde.

Na área de software, um antigo sonho que tenho é o “Client Mind Reader”, não exatamente um pai de santo digital, ou um jogador de búzios on line, mas um programa em que você pudesse entrar com os dados do cliente, o briefing que ele lhe passou para o trabalho e até algumas peculiaridades de experiências com esse mesmo cliente (não gosta de guitarra, adora samba, não curte som eletrônico, etc…). Isso tudo é para que o software avaliasse sua criação e antecipasse alguns dos problemas potenciais que seu cliente poderia levantar. Já ciente desses perigos, você poderia oferecer mais opções para contorná-los, trazendo um ambiente favorável a uma aprovação mais rápida do seu trabalho.

Para enfrentar aqueles mais indecisos, ou carentes que precisam de múltiplas idas e vindas até conseguirem se decidir por uma aprovação, um sonho que alimento há décadas é o “Patience Maximizer”. Seria possível adicioná-lo às suas refeições e, assim, enquanto chama o cliente para um almoço, o suprimento lhe daria uma dose extra de paciência e serenidade para que, mesmo sem perspectiva de novos pagamentos a cada novo pedido de refação, você não se sinta compelido a pular no pescoço dele, pedir para pagar e sair do trabalho, ou ser acometido por um surto monossilábico que poderá fazer sua fonte de trabalho se sentir “embaraçado”.

Lembre-se da importância do atendimento: mesmo que você não pretenda mexer em nada que lhe tome mais do que uma hora de trabalho, você terá que evitar ao máximo que o cliente perceba que está de saco cheio de tantos questionamentos em um mesmo job, com o mesmo orçamento. Para isso, o “Patience Maximizer” poderia ser uma arma secreta insubstituível.

E, antes que eu me esqueça, será que alguém poderia me indicar algum preparado, pílula, ou mesmo um teletransporte capaz de me fazer sumir de circulação entre 23 de dezembro à noite e só me disponibilizar online, e presencialmente, no dia 2 do novo ano?

Talvez um “Strategical Disappearer” ou um “Digital to foraizer”?

Pago à vista, uma em cima da outra, e tenho a mente sempre aberta a novas experiências, no bom sentido, como sabe o meu querido leitor.

Fernando Moura é pianista, compositor, arranjador e produtor de música e trilhas sonoras com mais de 30 anos de experiência no mercado. Saiba mais em www.myspace.com/fernandomoura.

2010-12-30T08:18:36+00:00 dezembro 30th, 2010|Categories: colunas, Sonhos de um Produtor|Tags: , , |

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One Comment

  1. Cristiano Moura dezembro 30, 2010 at 11:21 am - Reply

    Muito bom!!!
    Eu sempre digo que se eu fizesse todas minhas trilhas de graça, e cobrasse apenas pelos ajustes talvez eu estivesse rico hoje! 🙂

    Abs

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